As informações são do Crítica na Rede:
No Brasil publicam-se livros e mais livros de filosofia, mas poucos estudantes e professores sabem que esses livros existem. Geralmente, sabemos de uma nova publicação ou porque alguém que conhecemos descobriu que esse livro existe ou porque o encontramos ao acaso nas livrarias. Em parte este fenômeno se explica pela enorme extensão geográfica do país, que dificulta a distribuição e divulgação dos livros; mas a razão principal é um certo amadorismo das editoras, que parecem não compreender que o livro é um produto comercial como outro qualquer. Em alguns casos, os livros praticamente não são divulgados porque os editores imaginam que os livros vendem-se a si mesmos num passe de mágica; em outros casos, porque as editoras partilham da idéia de que os livros de filosofia não são para dar lucro. Em ambos os casos, trata-se de uma mentalidade atrasada, que dá prejuízo às próprias editoras e prejudica os leitores.
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Por estas e outras razões, os filósofos brasileiros têm de trabalhar mais pelo dinamismo da filosofia junto dos estudantes e da opinião pública. Enquanto não divulgarmos bem a nossa disciplina, as pessoas não entenderão o que é a filosofia; e se não divulgarmos bem os livros de filosofia, ficará cada vez mais difícil publicá-los. É com a intenção modesta de contribuir para essa divulgação que faço esta pequena resenha sobre os livros de Isaiah Berlin que foram traduzidos para o português.
Filósofo político e historiador, Isaiah Berlin (1909-97) tornou-se conhecido pelas suas contribuições na área da filosofia política, mais especificamente nas discussões acerca da liberdade. A sua principal contribuição é uma defesa da liberdade negativa apresentada em Two Concepts of Liberty (1959). A liberdade enquanto norma política pode ser interpretada de várias maneiras. Duas interpretações interessantes estão na distinção entre a liberdade negativa e a liberdade positiva. A liberdade negativa é a liberdade interpretada como a ausência de constrangimentos ou obstáculos à ação individual. A liberdade positiva é a liberdade interpretada com uma noção de autogoverno moral ou autodeterminação do indivíduo enquanto membro de um grupo.
As diferentes teorias em filosofia política acabam por privilegiar uma das duas interpretações, que sob certos aspectos são complementares. Se os liberais enfatizam a liberdade negativa devido à importância que atribuem à ausência de constrangimentos legais e sociais, teorias como a de Rousseau enfatizam que os gêneros mais importantes de liberdade só podem existir numa sociedade organizada com os constrangimentos necessários para que se possam atingir os melhores fins. Berlin se opõe às interpretações positivas da liberdade devido às perversões e abusos políticos a que dão margem. Rousseau, com sua teoria da vontade geral, por exemplo, nos leva ao absurdo de admitir a liberdade como uma forma de escravidão.
Berlin também se opõe às interpretações necessitaristas (deterministas, fatalistas) da história (Historical Inevitability, 1954) e sustenta uma concepção antideterminista do livre-arbítrio. Defensor de uma concepção política antiutópica, sustentada com exemplos históricos, Berlin afirma que os valores mais importantes para a humanidade necessariamente entram em conflito. Os esquemas políticos, teorias morais e religiões que negam esse pluralismo do valor (que negam que a “verdadeira liberdade” possa entrar em conflito com a “verdadeira igualdade”, por exemplo) têm resultado em desastres quando aplicadas na prática. Trata-se, portanto, de um filósofo político de inegável importância para qualquer discussão sobre a liberdade e a política. As suas obras traduzidas para o português são as seguintes:
- Estudos Sobre a Humanidade: Uma Antologia de Ensaios (Companhia das Letras): Uma antologia de ensaios que ilustram as concepções políticas de Isaiah Berlin, incluindo seu ensaio mais importante “Dois conceitos de liberdade”, em que apresenta sua defesa da interpretação negativa da liberdade.
- A Força das Idéias (Companhia das Letras): Esta obra reúne vários ensaios sobre temas como a finalidade da filosofia, o conceito de liberdade e os destinos do marxismo. Também estão presentes o último ensaio que Berlin escreveu, “Meu Caminho Intelectual” e o ensaio “Escravidão e Emancipação Judaicas”, que apresenta as suas polêmicas opiniões sionistas.
- Limites da Utopia: Capítulos da História das Idéias (Companhia das Letras): Isaiah Berlin questiona a pressuposição que está na base de todas as utopias: a idéia de que seria possível atingir o Bem absoluto. Preocupado com o aspecto totalitário presente nos projetos de sociedades ideais definitivas, Berlin faz um estudo das formas de racionalismo e anti-racionalismo que têm norteado a cultura ocidental.
- Rousseau e Outros Cinco Inimigos da Liberdade (Gradiva): Este livro é uma transcrição de seis conferências radiofônicas de Isaiah Berlin transmitidas pela BBC no ano de 1952. São seis conferências, cada uma delas sobre um “inimigo da liberdade”, mais especificamente: Helvécio, Rousseau, Fichte, Hegel, Saint-Simon e Maistre.
- Pensadores Russos (Companhia das Letras): Um exame da intelectualidade russa do século XIX e sua ruptura radical com as crenças e valores tradicionais. Entre os autores estudados por Berlin estão escritores como Tolstói e Turguêniev, e o anarquista Bakunin. Alguns desses ensaios são importantes para compreensão do liberalismo.
- O Sentido de Realidade: Estudos das Idéias e de sua História (Civilização Brasileira): Berlin sempre se opôs às concepções teóricas que tendem a tornar a vida mais fácil do que é, idealizando ou ignorando a realidade histórica, incluindo a história das idéias. Os textos desta obra têm em comum a preocupação de Berlin de compreender a história das idéias.
- Isaiah Berlin: Com Toda Liberdade (Editora Perspectiva): Esta obra resulta de uma série de diálogos de Isaiah Berlin com o filósofo Ramin Jahanbegloo. Berlin apresenta o núcleo de suas idéias, com a sua habitual prosa excepcionalmente clara e direta.
fonte: Blog CriticaNaRede,por Matheus Silva.
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