Época, por Daniel Aarão Reis.
A Revista Época entrevistou Daniel Aarão Reis, um dos principais historiadores da ditadura. Em 1960 Reis foi um dos militantes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), e atualmente é professor da Universidade Federal Fluminense.
Quando questionado sobre os sinais da permanência da ditadura na vida nacional, Daniel Aarão Reis afirma que a ditadura desapareceu a partir de 1979, com a revogação dos Atos Institucionais. Entretanto, a Constituição de 1988 conservou vários cacos da ditadura incrustados na atual ordem democrática.Entre eles, o historiador cita a permanência da tutela militar sobre a ordem constitucional, a vigência da Lei de Segurança Nacional, a hipertrofia do Executivo, que esmaga o Legislativo, a repressão desatada aos movimentos populares, as concepções de desenvolvimento econômico, apoiadas na cultura política nacional-estatista, a vigência da Lei Fleury, o aristocratismo de nossas elites políticas, militares e sindicais.
Reis critica os privilégios dos quais os militares dispõem. Ele os classifica como antirrepublicanos e antidemocráticos. Ele afirma, ainda, que é preciso disseminar que os militares são funcionários públicos uniformizados, e não “patrões da República”.
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O entrevistado explica como a Comissão Nacional da Verdade tem tido uma atuação positiva, sobretudo na denúncia das torturas e dos torturadores. Mas, segundo ele, enquanto as Forças Armadas não resolverem colaborar com seu trabalho, ela permanecerá fundamentalmente inócua.
Sobre o avanço da democracia e as tentações autoritárias, Daniel Aarão Reis expõe que “a tal consolidação da democracia brasileira é uma história da carochinha, um conto para boi dormir. A intolerância e as tendências autoritárias perpassam com vigor a sociedade brasileira. Querem dados? As taxas de homicídio, as de estupro, inclusive de crianças, as da violência policial, a vigência de uma assustadora homofobia, a prática disseminada da tortura e sua aceitação por amplos segmentos da sociedade. A democracia brasileira existe muito mais devido a uma equilibrada correlação de forças que devido a convicções democráticas arraigadas. Se houver uma crise grave, haveremos de ver as tentações autoritárias aparecerem com grande força no horizonte da sociedade brasileira”.
Por fim, o grande historiador da ditadura, afirma: ”a sociedade não deve ser cuidada pelos governantes, mas é ela, a sociedade, que deve cuidar dos governantes, controlá-los, mantê-los em rédea curta. A boa receita para superar essa situação não reside no falido liberalismo brasileiro, mas na democratização da democracia, com o reforço de perspectivas autonomistas, fundadas na auto-organização livre das gentes”.
Veja a entrevista na íntegra aqui.
Fonte: Época
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